17 de nov. de 2011

O que somos nós?

Já há alguns dias, venho pensando nesse assunto. Todas as quintas-feiras, venho trabalhar de carro + metrô + ônibus, pois é o rodízio do meu carro. Vou com ele até o Tietê e a partir daí, sigo o caminho metrô + ônibus.

É engraçado como a gente vê de tudo dentro do metrô e do ônibus, né? É gente que finge que tá dormindo pra não dar lugar para uma pessoa idosa, grávida ou com criança sentar, é gente sem noção que fica ouvindo o radinho do celular sem o fone, é gente que fala alto, é gente que não alcança o ferro lá em cima e se escora nas pessoas para não cair, é gente que já começa o dia com aquela catinga (essa não dá).

Quinta-feira passada, depois de pegar o metrô, desci na Sé para pegar o ônibus para o trabalho e lá estava eu, com o meu celular e o fone de ouvido, ouvindo a Band News e entra um moço pedindo ajuda. Quando olhei para ele, fiquei imaginando o que estaria passando na cabeça dele naquele momento. Será que ele realmente precisa de ajuda, está ali se humilhando ou está ali para levantar uma grana para depois torrá-la com droga, bebida, comida. Normalmente, não dou muita bola para essas pessoas que entram nos ônibus pedindo esmola, porque sempre acho que elas poderiam estar trabalhando, mas algo que chamou a atenção e resolvi ouvir e ao mesmo tempo, fazia uma análise dele. Ele deveria ter uns 25 anos, parecia uma pessoa que veio do nordeste para tentar a vida e como quase sempre acontece, eles quebram a cara, pois conhecem de fato como é louco morar nessa cidade "dos sonhos" chamada São Paulo. Ele não estava mal vestido, as roupas estavam limpas e estava apenas de chinelos. Contou que estava desempregado, que estava ali se humilhando para poder juntar um dinheiro e comprar comida para a familia dele, que dependia dele naquele momento, que ele estava tentando arrumar emprego, mas que a coisa estava difícil e que ele sabia que a vida não estava fácil para ninguém e que por isso, ele não estava exigindo valores, só queria qualquer ajuda. Fiquei pensando em tudo o que aquele moço estava ali falando e tentei me imaginar na situação dele. O que faria para não deixar minha família passar por uma situação dessas? Será que eu estava agradecendo o suficiente por tudo o que tenho recebido de graças? Por que havia tantas pessoas que passam necessidades e outras que esbanjam dinheiro e outras que tem tão pouco, mas mesmo assim ajudam ao próximo e no mesmo momento pensei: " Se alguém der dinheiro, eu também dou". E fiquei ali esperando alguém se movimentar e logo vi umas 3 a 4 pessoas pegando moedinhas e eu fui fazer a minha parte também. Quando peguei as  moedas, vi que tinha R$ 1,50 e dei pra ele. Ele olhou pra mim e falou: " Deus abençoe a sua família e que você tenha muitos anos de vida para cuidar e ser feliz com eles...". Apenas um adendo: eu iria dar o dinheiro de qualquer forma, mesmo se ninguém se manifestasse. A hora que ouvi isso, meu coração estremeceu e tive a certeza que eu estava ajudando a pessoa certa. Pelo menos pra mim eu tive a certeza de que ele precisava e para mim isso bastou. Ele agradeceu a todos da mesma forma, agradeceu ao motorista e desceu do ônibus. Não sei o que ele fez com o dinheiro, mas a frase que me foi dita, foi o bastante para perceber que a gente reclama tanto da vida, reclama de tudo, sempre quer um pouco mais, queria que as coisas fossem diferentes e vemos a nossa volta tanta gente precisando de tão pouco, uma moeda, um bom dia, um sorriso...


E ontem pra completar, estava parada em um semáforo ali na Zona Norte e veio um senhor pedir moedas. Ontem eu realmente não tinha e ele veio falando pra mim: " Tenha paciência com os outros motoristas, perdoe se eles fizerem algo de errado, tanto motorista de carro e de moto, perdoe sempre e foi falando... O semáforo estava prestes a abrir e ele terminou assim: " Tenha um feliz Natal, muita paz para você curtir com a sua família". De novo me desabei. O senhor tinha dificuldades ao falar, usava uma espécie de bengala, ouvia mal. Tinha olhos azuis e vi pelo seu rosto, a marca do cansaço da vida. E o mais extraordinário depois de ter ouvido ele me falar de perdão, foi que estava saindo do trabalho, um motoqueiro entrou na minha frente do nada, atravessando o meu carro, quase ralou tudo e ainda me xingou. Na hora pensei: Infeliz! Ele ainda tá errado e ainda me xinga.. é Brincadeira! e aí o bom velhinho, me fala isso.... É ou não é pra ficar bege???

Acaber de ter a certeza de que a gente agradece por tudo o que conquista, mas mesmo assim, as vezes a gente reclama, acha que não tá sendo ouvido, que ainda falta algo. Eu já me senti assim, me achando injustiçada e tem tanta gente pior que eu, que eu tenho que agradecer muito mais e perdoar mais ainda. Não tenho o costume de guardar rancor das pessoas, nem viro a cara, apenas viro a página e a vida continua. Me sinto melhor assim. No final das contas, não somos nada, nem melhores que ninguém.

Tento passar esses valores para o Cauê, porque ele está com 12 anos e cariedade, humildade e repeito é tudo nessa vida. Não podemos fazer distinção das pessoas, apenas pelo fato de que elas estão ali se humilhando, pedindo dinheiro, ou porque estão mal vestidas. É claro que tem muita gente que podia muito bem estar por aí trabalhando e prefere ficar na rua pedindo dinheiro. Tem que saber filtrar e fico orgulhosa do Cauê, porque sabe separar um pouco isso. Gosta de ajudar as pessoas e isso me deixa feliz. Sinal que um pouco do que eu aprendi com os meus pais, pude transmitir pra ele e espero fazer a mesma coisa com a Clara.

Um bom dia a vocês!!!



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